domingo, 8 de maio de 2011

A FAMILIA NO MUNDO DE TRANSIÇÃO


João Eduardo Ornelas

O título desse artigo me foi recentemente proposto como tema para uma palestra. Para falar sobre o papel da família no mundo de transição precisamos antes de tudo nos situar a fim de não sermos influenciados pela gama de informações sensacionalistas, exotéricas, apocalípticas que inundam as publicações que enfocam esse tema bastante sedutor atualmente: transição planetária. 

Nós espíritas, temos o dever de nos pautarmos pela Doutrina dos Espíritos, ou seja, no Pentateuco kardeciano onde se encontra as bases, os fundamentos e a essência da doutrina. É um grande erro aceitar como sendo espíritas, informações que se contrapõem à doutrina, algumas vezes até trazidas por espíritas renomados, bem intencionados e de moral reconhecidamente ilibada, contudo por serem humanos não são perfeitos e às vezes se deixam levar pela onda novidadeira. Fica evidente que a boa parte dessas publicações tem por objetivo maior vender e gerar lucros explorando a curiosidade e o gosto por informações bombásticas e fenomênicas de muitos, para não dizer da maioria.
A doutrina espírita fala sim, com clareza e equilíbrio que lhe são peculiar, sobre a transição planetária. Tudo no universo evolui e os mundos também. O nosso planeta já foi um mundo primitivo que evoluiu e atingiu o estágio em que se encontra atualmente, mundo de provas e expiações. O próximo estágio a ser atingido pela terra é o de mundo de regeneração.

Kardec informa já na  época em que o espiritismo surgiu, que a transição  estava ocorrendo, e que ela se dá de forma gradativa, sem estardalhaço, sem pirotecnia, pouco a pouco. Processa-se via substituição dos espíritos atrasados que habitam a terra que desencarnando  são substituídos por outros mais evoluídos. Ao apresentar a Geração Nova no livro A Gênese, o codificador coloca que no lugar de um espírito endurecido e persistente no mal que não mais teria condições ou merecimento de reencarnar na terra, viria um espírito evoluído e propenso ao bem. Os primeiros seriam enviados  para mundo inferiores a fim de conquistarem lá, auxiliando o progresso, as virtudes morais que lhe faltam. Diz ainda que as duas gerações se confundem, uma partindo e outra chegando. Ambas convivem no mesmo ambiente.

Vemos, portanto, que pela doutrina espírita não há uma data estipulada para a consumação da tão apregoada transição. Ela se avizinha, já dizia Kardec. E continua se avizinhando, muito mais agora passados 154 anos. Caso houvesse uma data precisa, será que os espíritos da codificação não a saberiam? Santo Agostinho, Sócrates, São Luiz, Erasto e tantos outros sem esquecer o próprio Espírito Verdade, desconheciam tal data? Caso exista essa data, porque não disseram a Kardec? E se disseram, porque Kardec não a publicou?

Citando mais uma vez A Gênese, lá Kardec nos diz que espíritos verdadeiramente ponderados não predizem datas para os fatos futuros, apenas previne aos homens sobre os rumos que os acontecimentos tomarão, quando essa informação é útil para a coletividade. Foram o que os espíritos “ponderados” da codificação fizeram: Mostraram o rumo, a destinação do planeta terra para que tivéssemos fé no futuro do nosso globo e não nos desesperássemos diante dos cataclismo que surgem a cada dia, mas não marcaram data para a consumação da transição. Caso uma data específica realmente exista, qual a relevância de sabê-la?  Como comprovar a veracidade da informação? Qual o proveito na sua divulgação? Penso que ao contrário, pode trazer confusões e desviar as mentes do foco principal do espírita e do cristão de modo geral, que é buscar sempre sua evolução moral e reforma íntima. Quantos seminários, quantas publicações, quantos programas de TV e rádio enfocando a transição recheados de informações sensacionalistas e impossíveis de se comprovar? Quanta perda te tempo!

Desse movimento todo derivam temas como: crianças índigo, astro intruso, nibirú, espíritos evoluídos se reencarnando por fertilização in vitro, data marcada para que os espíritos atrasados deixem de reencarnar na terra, etc. Temas, termos e princípios de seitas esotéricas e filosofias várias são absorvidos por pessoas ligadas ao movimento espírita e apresentadas com entusiasmo sem qualquer verificação ou questionamento. Deixemos claro que não é nenhuma critica a outras filosofias, mas quanto ao fato de misturá-las com o espiritismo.  As bases doutrinárias são deixadas de lado, o que  é no mínimo uma temeridade e um desrespeito com a grande obra dos espíritos superiores contida na codificação.

Diante do exposto qual o papel da família no mundo de transição? O mesmo papel colocado pela doutrina espírita nas obras da codificação como no capítulo IV da terceira parte de O Livro dos Espíritos “A Lei de reprodução”,  no CAP XXII de O  Evangelho segundo o Espiritismo “Não Separeis o que Deus Juntou”, e nos ensinamentos morais contidos em  obras de autores como Emmanuel, André Luiz e outras de reconhecida idoneidade no meio espírita versando temas sobre família, filhos, parentela carnal e espiritual, casamento, namoro,  divórcio, etc.

Embora a modernidade tenha proporcionado modelos novos de família, tais como famílias unicelulares, uniões homoafetivas dentre outros, o espírita convícto tem consciência de suas responsabilidades e das implicações de vidas passadas e para vidas futuras que decorrem da união conjugal. A família, seja qual for sua configuração deve continuar sendo o cenário ideal para o crescimento moral, reconciliação, prática do amor, tolerância e caridade. E a melhor forma de auxiliarmos para a concretização da transição, é proporcionando a nossas crianças o ambiente ideal para que desenvolvam seu potencial espiritual e tenham êxito em suas missões reencarnatórias, o que via de regra deve ser feito num ambiente familiar saudável e equilibrado.

Um comentário:

  1. Ornelas, é muito bom ler textos sérios e tão bem escritos quanto este. Comungo com você o ideal cristão e acredito que nossos estudos devem se basear sim, nos escritos sérios.Luz e paz!

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