segunda-feira, 31 de outubro de 2011

EMPREGO ÚTIL DO TEMPO

Recordando Allan Kardec

EMPREGO ÚTIL DO TEMPO

As depressões cobram o ônus da futilidade aos que desperdiçam as horas

Rogério Coelho

"(...) Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada

com muitas coisas, mas uma só é necessária".

- Jesus. (Lc. 10:41.)

 

Festas intermináveis, insossas badalações sociais, futilidades!... A hora vazia cobra um alto e doloroso preço na economia espiritual. Não é sem motivo que grassam as depressões de variegado matiz.

"Ó miséria! Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esquecida de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido. (...) Eu urro de dor, errante, sem repouso, rumando sem esperança, sentindo o aguilhão do eterno castigo a enterrar-se-me na alma revoltada! (...) Não tenho expressões para definir esse tempo que se escoa, sem que as horas lhe assinalem períodos".

Os lamentos acima, mais gemidos que palavras, foram proferidos por Claire, uma senhora que viveu na Europa no século XIX.

Ao analisar a situação "post mortem" de alguns Espíritos sofredores, Allan Kardec selecionou[1] algumas mensagens de Claire, que tardiamente reconheceu a preciosidade que é o tempo, em especial enquanto estamos encarnados, para promovermos a nossa alforria espiritual. Mas, desassisados que somos, investimos muito desse valiosíssimo tempo nas horas vazias!... O resultado disso é que – hodiernamente - as depressões estão aí fazendo a cobrança do ônus da futilidade aos ecônomos infiéis que desperdiçaram o tempo jogando conversa fora.

Eis o aconselhamento explícito de Claire1: "(...) Vela constantemente, ama os outros mais que a ti mesmo, não retardes a marcha nem engordes o corpo em detrimento da alma. Vela, conforme pregava o Salvador a Seus discípulos".

O Espírito S. Luís, que tão oportunas páginas nos ofereceu na Codificação Espírita, comentando as mensagens de Claire, disse, entre outras coisas1:

"(...) Este quadro é de todo verdadeiro e em nada exagerado. Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher para ser assim tão miserável! Ela cometeu algum crime horrível? Roubou? Assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com o que chamais felicidade ter­rena; beleza, gozos, adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam: — Que mu­lher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber? Foi egoísta possuía tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto como esqueceu a primeira das virtudes — a caridade. Não tendo amado senão a si mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa. Eis o que constitui o seu tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela não sofre torturas fisicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é, aliás, desneces­sário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso, porquanto, se tal acontecesse, os demô­nios seriam seres a ocuparem-se dela. O egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a perse­gue — verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro de­mônio.

(...) O insulamento, o abandono, o desamparo, eis a punição daquele que só viveu para si. Claire era, como vimos, um Espírito assaz inteligente, mas de árido coração. A posição social, a fortuna, os dotes físicos que na Terra possuíra, atraíram-lhe homenagens gratas à sua vaidade – o que lhe bastava; hoje, onde se encontra, só vê indiferença e vacuidade em torno de si.

(...) Certos Espíritos são obstinados na prática do mal; são insensíveis à ideia e mesmo ao espetáculo da felicidade dos bons Espíritos. É exatamente a situação dos homens de­gradados que se deleitam na depravação como nas prá­ticas grosseiramente sensuais. Esses homens estão, por assim dizer, no seu elemento; não concebem os prazeres delicados, preferindo farrapos andrajosos a vestes limpas e brilhantes, por se acharem naqueles mais à vontade. Daí a preterição de boas companhias por orgias báquicas e deboches. E de tal modo esses Espíritos se identificam com esse modo de vida, que ela chega a constituir-lhes uma segunda natureza, acreditando-se incapazes mesmo de se elevarem acima da sua esfera. E assim se conser­vam até que radical transformação do s er lhes reavive a inteligência, lhes desenvolva o senso moral e os torne acessíveis às mais sutis sensações.

Esses Espíritos, quando desencarnados, não podem prontamente adquirir a delicadeza dos sentimentos, e, du­rante um tempo mais ou menos longo, ocuparão as camadas inferiores do mundo espiritual, tal como acontece na Terra; assim permanecerão enquanto rebeldes ao pro­gresso, mas, com o tempo, a experiência, as tribulações e misérias das sucessivas encarnações, chegará o momen­to de conceberem algo de melhor do que até então pos­suíam. Elevam-se-lhes por fim as aspirações, começam a compreender o que lhes falta e principiam os esforços da regeneração. Uma vez nesse caminho, a marcha é rápida, visto como compreenderam um bem superior, comparado ao qual os outros, que não passam de grosseiras sensações, acabam por inspirar-lhes repugnância".

Enquanto encarnados, estamos no tempo da sementeira (que é livre, voluntária), mas uma vez desencarnados, vamos colher – obrigatoriamente – o que tivermos semeado... Daí o oportuno alerta de Jesus[2]: "Não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos".

Saibamos, portanto, (enquanto é dia) semear com inteligência e cuidado a fim de colhermos, mais tarde, os frutos sazonados da paz imarcescível e da felicidade sem mescla, repetindo com Jesus: "Venci o mundo".



[1] - KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 1944, 2ª parte, cap. IV.

[2] - Lucas, 6:44.

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