quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CARIDADE BENEFICENTE & CARIDADE BENEVOLENTE

Recordando Allan Kardec

CARIDADE  BENEFICENTE  & CARIDADE  BENEVOLENTE

O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para sua felicidade na Terra

Rogério Coelho

Assim Jesus entendia a Caridade[1]: "Benevolência para com todos;

indulgência para as imperfeições dos outros; perdão das ofensas".

Em seu  contexto doutrinário o Espiritismo dá muitíssimo valor à caridade afirmando[2]: "Fora da Caridade não há salvação". E Kardec diz mesmo enfaticamente3: "não há verdadeiro espírita sem caridade".

Mas, de uma maneira geral, essa questão é ainda muito mal compreendida, existindo muita confusão em torno da palavra.  Isso porque o campo da Caridade é muito vasto...

Em um de seus memoráveis discursos, catorze meses antes de sua desencarnação, o nobre Mestre Lionês presta esclarecimentos sobre esse tema.  Eis parte de seu ensino[3]:

"(...) A caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, da qual é necessário bem compreender toda a importância; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e de defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto é ainda necessário...

O campo da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por falta de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todo o mundo, do mais pobre como do mais rico.

Se a beneficência é forçosamente limitada, nenhuma outra senão a vontade pode pôr limites à benevolência.

Mas o que é preciso para praticar a caridade benevolente?!  Amar seu próximo como a si mesmo: Ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o amará muito; se agirá para com os outros como se gosta que os outros ajam para conosco; não se desejará nem se fará mal a ninguém, porque não gostaríamos que no-lo fizessem.< /span>

Amar seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o mal; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha no olho de seu vizinho enquanto a trave está no seu; é ocultar ou desculpar as faltas dos outros, em lugar de se comprazer em pô-las em relevo pel o espírito de denegrir; é ainda não se fazer valer às custas dos outros; de não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; de não desprezar ninguém por orgulho...   Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é uma palavra vã.

É fácil demonstrar que temos tudo a ganhar agindo sempre de maneira caridosa e tudo a perder agindo de outro modo, mesmo em nossas relações sociais.  Ainda mais: O bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o mal atrai o mal e abre a porta à maldade dos maus. Cedo ou tarde o orgulhoso é castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os bons Espíritos por eles é abandonado, e, de queda em queda, se vê, enfim, no fundo do abismo, ao passo que os bons Espíritos levantam e sustentam aquele que, em suas maiores provas, não deixa de confiar na Providência e não desvia jamais do caminho reto; aquele, enfim, cujos sentimentos não escondem nenhum pensamento dissimulado de vaidade ou de interesse pessoal. Portanto, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa! Assim, cada um, em virtude de seu livre arbítrio, pode escolher a chance que quer correr, mas não poderá responsabilizar senão a si mesmo pelas consequências de suas escolhas.< /p>

Crer em um Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente na perfeição; na equitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio[4]: A cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível, na solidariedade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados, considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, tendo em vista o futuro mais invejável do que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e em ações na mais ampla acepção da palavra; se esforçar cada dia para ser melhor do que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as suas crenças ao controle do livre exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por irracionais que nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas diferentes descobertas da ciência a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: Eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode se conciliar com todos os cultos, quer dizer, com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os Espíritas em uma santa comunhão de pensamentos, à espera que una todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal."                                                                                               ■



[1] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 886.

[2] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XV.

[3] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Novembro de 1868. Araras: IDE, 2000. p.p. 360-362.

[4] - Mateus, 16:27.

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