sexta-feira, 2 de março de 2012

ARTIGO - O ADVENTO DO CONSOLADOR



O ADVENTO DO CONSOLADOR
Com a geração que surge virá o triunfo da união, da paz e da fraternidade entre os homens
Rogério Coelho
"(...) E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador..."
- Jesus. [Jo., 14:16].

As raízes mais profundas do Espiritismo já traziam os traços de sua  marcante característica universalista, haja vista que desde o seu aparecimento e posterior desenvolvimento, nunca se circunscreveu a limites geográficos.   Romper fronteiras físicas e transcendentais, tal uma de suas múltiplas peculiaridades!
Os fenômenos que ensejaram o seu advento aconteceram nos Estados Unidos da América do Norte, mais precisamente na pequena cidade de Hydesville no Estado de Nova York, e repercutiram na França, onde se consolidaram em corpo doutrinário através do empenho formidável de Allan Kardec, devidamente amparado pela Espiritualidade Superior.  Após a formatação doutrinária, eis o Espiritismo atravessando o Atlântico, na direção das terras do Cruzeiro, encontrando terreno fértil e farta semeadura...  E do Brasil irradia-se – agora –  para todo o mundo!
Segundo Allan Kardec[1], "(...) as manifestações ocorreram em todos os tempos  tanto na Europa quanto na América, e hoje que se dá conta da coisa, lembra-se uma multidão de fatos que passaram despercebidos, e deles se encontra uma multidão consignados nos escritos autênticos. Mas esses fatos eram isolados; nestes últimos tempos, (de 1848 em diante) se produziram nos Estados Unidos, numa esca­la bastante vasta para despertar a atenção geral dos dois lados do Atlântico.  A extrema liberdade que existe naquele país  fa­voreceu a eclosão de ideias novas, e foi por isso que os Espíritos escolheram-no como o primeiro teatro de seus ensinos.
Ora, ocorre frequentemente que uma ideia nasce num país e se desenvolve em um outro, assim como se vê pelas ciências e pela indústria.   Sob esse aspecto o gênero americano fez suas provas, e nada tem a invejar à Europa; mas se excede em tudo o que concerne ao comércio e às artes mecânicas, não se pode recusar à Europa o das ciências morais e filosóficas.  Em consequência dessa diferença no caráter normal dos povos o Espiritismo experimental estava sobre seu terreno na América ao passo que a parte teórica e filosófica achava na Europa os elementos mais propícios ao seu desenvolvimento; também foi ali que ela nasceu e em poucos anos conquistou o primeiro lugar. Os fatos lá primeiro despertaram a curiosidade; mas constatados os fatos e satisfeita a curiosidade, logo deixaram as experiências materiais sem resultados positivos; não ocorreu mais o mesmo desde que se desenvolveram as consequências morais desses mesmos fatos para o futuro da Humanidade; desde esse momento o Espiritismo tomou lugar entre as ciências filosóficas caminhou a passos de gigante, apesar dos obstáculos que lhe suscitaram, porque satisfazia as aspirações das massas, porque se compreendeu prontamente que vinha preencher um vazio imenso nas crenças, e resolver o que até então parecia insolúvel.
A América, pois, foi o berço do Espiritismo, mas foi na Europa que ele cresceu e fez suas humanidades. Na América há lugar para disso ter ciúme? Não, porque sobre outros pontos teve a vantagem. Não foi na Europa que as máquinas a vapor nasceram, e não foi na América que se tornaram em condições práticas?  A cada um seu papel segundo as suas aptidões, e a cada povo o seu, segundo seu gênio particular".
Allan Kardec assinala[2] seis períodos que marcaram o surgimento e o desenvolvimento do Espiritismo:  O primeiro período foi caracterizado pela curiosidade.  O segundo foi o período filosófico, marcado pela aparição de "O Livro dos Espíritos". Desde esse momento o Espiritismo tomou um caráter diferente: foram entrevistos o objetivo e a import ância, nele se hauriu a fé e a consolação, e a rapidez de seus progressos foi tal que nenhuma outra doutrina, filosófica ou religiosa, ofereceu igual exemplo.  Mas, como todas as ideias novas, teve adversários tanto mais obstinados quanto a ideia era maior, porque toda grande ideia não pode se estabelecer sem ferir interesses; é necessário que ela tome lugar, e as pessoas deslocadas não podem vê-la com bom olhar; depois, ao lado das pessoas interessadas estão aqueles que, por sistema, sem motivos precisos, são os adversários natos de tudo o que é novo.
Nos primeiros anos, muitos duvidaram de sua vitalidade, foi porque lhe deram pouca atenção; mas quando o viram crescer apesar de tudo, se propagar em todas as classes da socieda­de e em todas as partes do mundo, tomar seu lugar entre as cren­ças e tornar-se uma potência pelo número de seus adeptos, os interesses na conservação das ideias antigas se alarmaram se­riamente. Foi então que uma verdadeira cruzada foi dirigida contra ele, e que começou o terceiro período, conhecido como o  Período da Luta.
O auto-de-fé de Barcelona, de  9 de outubro de 1860, de alguma sorte, foi o sinal desse período.  Até ali, tinha sido alvo dos sarcasmos da incredulidade que ri de tudo, sobretudo do que não compreende, mesmo das coisas mais santas, e às quais nenhuma ideia nova pode esca­par: foi o seu batismo; mas os outros não riem mais: se olham coléricos, sinal evidente e característico da importância do Espiritismo.  Desde esse momento os ataques tomaram um cará­ter de violência estranha; a palavra de ordem foi dada; sermões coléricos, pastorais, anátemas, excomunhões, perseguições in­dividuais, livros, brochuras, artigos de jornais, nada foi poupado, ne m mesmo a calúnia.  Estamos, pois, em pleno período da luta, mas ele não acabou. Vendo a inutilidade do ataque a céu aberto, vai se tentar a guerra subterrânea, que já se organiza e começa; uma calma aparente vai se fazer sentir, mas é a calma precursora da tempestade; mas também, à tempestade, sucede um tempo sereno. Espíritas, guardai-vos da inquietação!  O resultado não será duvidoso; a luta é necessária, e o seu triunfo não será senão mais brilhante. Eu disse, e o repito: vejo o objetivo, sei quando e como será alcança­do. Se vos falo com esta segurança, é que tenho para isso ra­zões sobre as quais a prudência quer que me cale, mas as conhecereis um dia. Tudo o que vos posso dizer é que poderosos auxiliares virão, que fecharão a boca a mais de um detrator. No entanto, a luta será viva, e se, no conflito, houver algumas vítimas de sua fé, que elas disso se alegrem, como o fizeram os primei­ros mártires cristãos, dos quais vários est ão entre vós para vos encorajar e vos dar o exemplo; que elas se lembrem destas pa­lavras do Cristo[3]: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Sereis felizes quando os homens vos carregarem de maldições, e que vos perseguirem, e que disserem falsamente toda espécie de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos, então, e estremecei de alegria, por­que uma grande recompensa vos está reservada nos céus; por­que foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós."
Estas palavras não parecem ter sido ditas para Espíritas de hoje como para apóstolos de então? É que as palavras do Cris­to têm isto de particular: são de todos os tempos, por­que Sua missão era para o futuro, como para o presente.
A luta determinará uma nova fase do Espiritismo e conduzirá ao Período Religioso. Depois virá o Período Intermediário -  consequência natural do precedente, e que receberá mais tarde sua denominação característica. O sexto e último período será o Período da  Renovação Social, que abrirá a era do século vinte.  Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas queridas por Deus, para transformação da Terra, terão desaparecido; a geração que se levanta, imbuída de ideias novas, será toda a sua força, e preparará o caminho daquela que inau­gurará o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença pela prática da lei evangélica. Assim serão verificadas as palavras do Cristo, que todas devem receber seu cumprimento, e das quais várias se cumprem nesta hora, porque os tempos preditos são chegados.                                                                   ■




[1] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Maio de 1864. Araras: IDE, 1993, p.p. 147-148.
[2] - KARDEC, Allan. Revue Spirite. Dezembro de 1863. Araras: IDE, 2000, p.p. 377-379.
[3] - Mt., 6:10, 11, 12.

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