sábado, 26 de fevereiro de 2011

A RESPEITO DO CARNAVAL


Amigos,
O carnaval se aproxima e é sempre bom analisarmos essa festa popular sob a ótica dos espíritas. Proponho um texto de José Carlos Leal, outro de Emmanuel e um meu em que tento despretensiosamente analisar os dois primeiros.

João Eduardo Ornelas

Carnaval e espiritismo
José Carlos Leal
Para se entender o carnaval e outras festas  populares, é necessário lembrar que a Terra ocupa o segundo lugar na escala evolutiva enquanto um planeta de provas e expiações.
Para se entender o carnaval e outras festas  populares, é necessário lembrar que a Terra ocupa o segundo lugar na escala evolutiva enquanto um planeta de provas e expiações. Aqui, e em mundos semelhantes, encarnam espíritos recém saídos da barbárie, dando os primeiros passos na sua história evolutiva e esses espíritos trazem consigo um grupo de sensações ou pulsões que precisam ser extravasadas para que não se voltem contra a sociedade em que encarnaram. Não foi a toa que Freud nos defendeu a tese de que a cultura nasce da repressão. Em verdade, estamos encarnados para  reprimirmos as más tendências e adquirir elementos espirituais positivos como o amor, a solidariedade, o respeito ao próximo e as diferenças, em uma palavra, desenvolver as faculdades positivas do espírito.
 A festa é o momento em que o espírito tem a oportunidade de pôr para fora, não necessariamente, o que ele tem de pior mas as suas emoções mais profundas. Como somos espíritos altamente imperfeitos as nossas festas quase sempre explicitam emoções do tipo primário. Nos tempos da Grécia antiga, as bacanais, festas dedicadas ao deus Dioniso ou Baco tornaram-se tão perigosas para o equilíbrio da polis (cidade) que teve de ser transformada em teatro como uma forma de "domesticação" do conteúdo nocivo da alma humana. A Festa do deus Líber em Roma; a Festa dos Asnos que acontecia na igreja de Ruan no dia de Natal e na cidade de Beauvais no dia 14 de janeiro entre outras inúmeras festas populares em todo o mundo e em todos tempos, têm esta mesma função.
 O carnaval é uma dessas festas que costuma ser chamada de folia que vem do francês folle  que significa loucura ou extravagância sem que tenha  existido perda da razão. No caso do carnaval a palavra significa desvio, anormalidade, fantasia  descontração ou mesmo alegria. Assim, a festa carnavalesca é o momento em que o espírito humano pode extrojetar o que há de mais profundo de mais primitivo em si mesmo.  O poeta Vinicius de Morais deixou isto muito claro ao dizer: " Tristeza não tem fim, felicidade sim / A felicidade parece a grande ilusão do carnaval/  ? a gente trabalha um ano inteiro / por um momento de sonho/ pra fazer a fantasia de rei ou de pirara ou jardineira / Pra tudo se acabar na quarta-feira."
 Qual a posição do espírita ante o carnaval? Sem querer ditar normas, apenas dando a minha opinião, o espírita, em primeiro lugar, deve compreender o carnaval; não ser muito severo, não ter medo dele por acreditá-lo uma expressão do mal e do diabólico da alma humana; não fugir dele por medo de sua sedução. Não deve, como fazem algumas religiões criar blocos ou escolas-de-samba para brincar um carnaval cristão. Pode ser um observador comedido, se gosta da festa, ir ao sambódromo ou às ruas para ver os foliões e, se não gosta, pode aproveitar o feriadão para descansar, meditar ou estudar espiritismo sozinho ou em conjunto; em resumo seguir o conselho de Paulo: "Viver no Mundo sem ser do mundo."

Sobre o Carnaval
Autor Emmanuel / Médium Francisco Cândido Xavier

Nenhum espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências, nas festas carnavalescas.

É lamentável que, na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com o título de civilização.

Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.

Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifiquem o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos, na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho.

Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretenciosas opiniões, colaborando conosco, dentro das suas possibilidades, para que possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloqüente atestado de sua miséria moral.

Emmanuel

Psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier em Julho de 1939.
(Encartado também na Revista Internacional de Espiritismo,
exemplar de Janeiro de 2001 páginas 565 e 566 - Editora O Clarim).

O Carnaval e as Almas Indecisas
João Eduardo Ornelas
Analisando as duas colocações, a de José Carlos Leal e a de Emmanuel, qual  delas seguir? Quem está  certo, aquele que é tolerante para com o carnaval ou aquele que o condena veementemente?  Qual a postura da doutrina espírita?
Em primeiro lugar, nenhum dos dois autores por mais méritos que possuam  não  respondem oficialmente pela doutrina espírita, simplesmente colocam seus pontos de vista que evidentemente  devemos levar em conta.
No  meu modo de ver, ambos estão certos e nos mostram dois aspectos importantes, e o somatório dos dois textos poderia muito bem representar o posicionamento da doutrina espírita. Mas como disse, isso  é apenas mais um ponto de vista: o meu.
 Emmanuel nos chama a atenção para algumas realidades incontestáveis:
Há que se lamentar que com tanto conhecimentos e avanços da humanidade, ainda nos comprazemos em diversões e festejos baixos, dignos de civilizações pré-históricas.
Enquanto as dores, os sofrimentos e as dificuldades da vida fazem o homem evoluir significando conquistas importantes para seu futuro espiritual, momentos de total liberalidade  como o carnaval operam nas almas indecisas a revivescências da animalidade resultando  em grandes comprometimentos e atrasos em sua evolução.
Nos chama a atenção para as grandes quantias que se gasta no carnaval enquanto há tantos necessitados carecendo do básico.
Emmanuel toca em pontos fundamentais de forma direta, põe o dedo na ferida sem rodeios. Penso que na verdade ele quis de fato impactar o leitor, uma espécie de tratamento de choque. Emmanuel fala para o homem velho, ao espírita incipiente que ainda luta contra seus instintos mais primitivos, ou seja, a grande maioria de nós. O querido Mentor de Chico Xavier mostra de forma nua e crua o desvario que muitas vezes é o carnaval e o mal que pode causar às almas indecisas.
 José Carlos Leal também chama a atenção para a grande bagagem de imperfeição que a humanidade terrena traz em seu intimo e que vem à tona em festas como o carnaval, ou seja, fala o mesmo que  Emmanuel apenas com outro enfoque.
Mas  Leal fala também ao homem novo, ao ideal de espírita convicto e firme no seu entendimento da vida e conhecedor de sua natureza de espírito imortal em constante evolução. E a postura do homem renovado deve ser a de não ver o carnaval como um demônio, um bicho papão que deva ser execrado e repudiado com toda veemência, mas como uma manifestação própria de uma humanidade ainda atrasada espiritualmente, manifestação essa com a qual se deve conviver de forma sadia e com equilíbrio.
Podemos concluir que ambos os autores estão certos e não se contradizem, ao contrário, se complementam. O carnaval tráz muitos prejuízos para a alma humana, mas o espírita não deve fugir dele por insegurança. Aquele que levou a sua reforma íntima a um nível  razoável, não se deixará levar pelas seduções carnavalescas ainda que esteja participando dos festejos. É preciso analisar cada palavra. Emmanuel disse que o carnaval provoca grandes prejuízos às almas indecisas,  não em todas as almas. Resta-nos responder a questão: somos ainda almas indecisas?

Um comentário:

  1. Somos almas indecisas a partir do momento que temos conhecimento sobre magnetismo, fluidos , espiritos que usam as nossas fraquezas para alimentar seus vicios e mesmo assim compartilhamos de ambientes que atraem essas negatividades.
    Concordo com os autores; acho que eles se complementam, mas acredito ainda que existe indecisão em nossas almas quando, também no Natal tem mais destaque Papai Noel do que Jesus,assim como na Pascoa o coelhinho. Tudo acontece por não colocarmos em prática os conhecimentos espirituais adquiridos e pelo comodismo de ir pela maioria ou seguir um padrão social, sem avaliar se é certo ou errado.

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